A DISCURSIVIZAÇÃO DA MEMÓRIA EM RELATOS AUTOBIOGRÁFICOS DE ALUNOS DA EJA

Autores

  • Claudio Lessa Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais (Cefet/MG)

Resumo

Neste artigo, busco mostrar de que maneira as narrativas de vida de alunos da Educação de Jovens e Adultos (EJA) parecem confirmar reflexões sobre a escrita autobiográfica e sobre o ato de recordar feitas pelos Estudos da Linguagem e pela Sociologia: o sujeito ao se propor ou ser instado a contar suas memórias, autorrepresenta-se, avalia a si e a outrem (fatos, eventos, pessoas e discursos) segundo as referências éticas que formam sua subjetividade presente, introjetadas e sedimentadas a partir de sua pertença aos diversos grupos, que segundo Halbwachs (1925), constituem os quadros sociais da memória: a família, a religião e a classe, além da linguagem e das coordenadas espácio-temporais. Nessa auto-objetivação, o sujeito realiza um projeto retórico; cf. Namer (1987): orienta-se por uma vontade de persuadir/convencer, imprime um determinado tom ao seu dizer de acordo com o interlocutor ao qual se endereça. Trata-se de considerar uma memória discursivizada, retoricizada. Nos relatos dos alunos da EJA, ouvem-se ressoar tons de ressentimento, de tristeza, de denúncia; mas, também, de nostalgia, de alegria e superação das adversidades da vida.