Alexander von Humboldt: Revolucionando a Literatura de Viagem

Autores

  • Oliver Lubrich

Palavras-chave:

Relato de Viagem, Alexander von Humboldt, Desconstrução

Resumo

O relato da viagem americanista de Alexander von Humboldt (Relation Historique du Voyage aux Régions Équinoxiales du Nouveau Continente 3 vols., 1814-1831) desafia as genéricas definições: trata-se de um complexo híbrido de diversos discursos científicos, registros de dados empíricos, escrita de diário, e formas tradicionais de narrativa de viagem. A poética de Humboldt questiona especificamente o formato convencional do relato de viagem. Todos os seus traços centrais que poderiam dar ao texto uma coerência e torná-lo legível para o receptor estão carregados de múltiplos sentidos, tornando-o desta maneira desestabilizado: (1) o sujeito (viajante, autor, narrador, assinatura, pronomes pessoais, (2) o objeto (os países que o relato de viagem supostamente tematiza, suas várias e contraditórias formas de denominação e descrição no texto), (3) o destinatário (o leitor explícito como o leitor implícito e a comunidade interpretativa), e, finalmente, (4) o próprio texto (como um gênero literário, ou, fenômeno discursivo, seu formato, sua polifonia, sua autoreferência, sua autoreflexão. Uma análise narratológica e uma leitura estruturalista nos leva à questão sobre como a poética de Humboldt reflete sua aproximação da diferença cultural. O tipo específico de desconstrução do relato de viagem, como eu a vejo, subverte, desautoriza as formas imperiais de escrita colonial. Não há "identidades" e "diferenças" que podem ser definidas inequivocadamente desde uma perspectiva privilegiada. O relato de viagem de Humboldt pode ser dessa maneira lido dentro do paradigma haurido pela teoria contemporânea pós-colonial: no encontro com o "outro", Homi Bhabha observou, "a linguagem do dominador se tornou híbrida".

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