Viagem, Guerra e Consolidação Nacional: as Reminiscências do "Perito" Moreno
Palavras-chave:
Guerra, Viagem, Extermínio Indígena, Museu, Patagônia, Violência EstatalResumo
A viagem narrada em Viaje a la Patagônia Austral(1879), de Francisco Pascasio Moreno (1852 — 1919), aconteceu nos anos 1875-1876, a data de publicação é importante, porque no mesmo ano o governo argentino organizou a exitosa e igualmente terrível "Conquista del Desierto", expressão eufemística que tenta esconder o único propósito do projeto: o extermínio das populações indígenas das regiões patagónicas. Embora Moreno não tenha participado formalmente do massacre, ele faz parte de tal projeto oficial de conquista e apropriação do território e seus habitantes. Sua presença na Patagônia é anterior e contemporânea à guerra concreta. Há um certo paralelismo entre o seu discurso e o projeto nacional que ele acompanha. Viaje a la Patagônia Austral não é, porém, o texto onde é possível notar a presença da guerra com maior clareza. A guerra é aqui como um fantasma inquietante que se pode perceber no futuro, porque os indígenas vivos que Moreno encontra são concebidos como destinados ao museu, já extintos, como seres do passado, anacrônicos, cuja desaparição é inevitável. Porém, nas Reminiscencias del Perito Moreno, conjunto de textos de e sobre Moreno publicados postumamente em 1942, as cartas e relatos que foram aí incluídos apresentam cenários de guerra aberta, nos quais o diálogo e a identificação entre a guerra, o Estado em processo de consolidação e a viagem se torna explícito, e adota diferentes formas, sobretudo porque o livro é um conjunto heterogêneo de textos que não foram reunidos pelo próprio Moreno, mas por seu filho.