ESTRANHAMENTO (UNHOMELINESS) E A TRISTEZA

Autores

  • Olga Kempinska Universidade Federal Fluminense (UFF)

DOI:

https://doi.org/10.22481/folio.v14i1.11119

Palavras-chave:

Estranhamento, Realismo maravilhoso, Horror, Tristeza, Lágrimas

Resumo

Na presente reflexão busco apresentar o desenvolvimento do conceito do estranhamento, sua importância na modificação da compreensão da poética e da estética, seus exemplos nos textos literários de Bruno Schulz, de Hilda Hilst, de Jericho Brown e de Julia Hartwig, assim como suas consequências teóricas na teoria da segunda metade do século XX. A citação frequente dos exemplos da literatura realista por Victor Chklovski, que surpreende os leitores voltados para as poéticas vanguardistas, pode ser compreendida como sugestiva da relação entre o estranhamento e a poética da metonímia, discutida posteriormente no trabalho de Roman Jakobson. Envolvido nas experiências das palavras “estranhas” da linguagem transmental e nas pesquisas das expressões consideradas como sagradas ou mágicas inerentes a algumas vertentes vanguardistas, o estranhamento remete ao problema do lugar e do ponto de vista do outro, correspondendo também à experiência de uma descentralização subjetiva radical, ou seja, uma perda do lugar próprio inerente à convenção do realismo maravilhoso. Pois o estranhamento acaba por remeter à radicalização da compreensão da alteridade. Assim, o conceito formulado por Chklovski nos inícios do século XX pode ser compreendido como precursor em relação às teorias que, no fim desse século marcado pelas violências de diversos deslocamentos, procuram descrever os aspectos violentos da forma e da recepção estética, tais como a do unhomely discutido por Homi Bhabha e muito importante nas tentativas mais recentes da representação da violência.

Downloads

Não há dados estatísticos.

Biografia do Autor

Olga Kempinska, Universidade Federal Fluminense (UFF)

Doutora em História Social da Cultura pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (Puc-RJ). Professora da Universidade Federal Fluminense (UFF).

Referências

AUERBACH, Erich. Ensaios de literatura ocidental. Trad. S. Titan Jr. e J. M. Mariani de Macedo. São Paulo: Editora 34, 2012.

BHABHA, K. Homi. O local da cultura. Trad M. Ávila et al. Belo Horizonte: Editora da UFMG, 1998.

BROWN, Jericho. Please. Kalamazoo: Western Michigan University, 2008.

BROWN, Jericho. The New Testament. Port Townsend: Copper Canyon Press, 2014.

BROWN, Jericho. The Tradition. Port Townsend: Copper Canyon Press, 2017.

GONDOWICZ, Jan. Bruno Schulz. Varsóvia: Edipresse, 2006.

HARTWIG, Julia. Gorzkie żale. Kraków: Wydawnictwo a5, 2011.

HILST, Hilda. Da poesia. São Paulo: Companhia das Letras, 2017.

JAKOBSON, Roman. Linguística e Comunicação. Trad. I. Blikstein e J. P. Paes. São Paulo: Cultrix, 1995.

LUTZ, Tom. Crying. The natural and cultural history of tears. Nova Iorque: W. W. Norton & Company, 1999.

MORRISON, Toni. Voltar para casa. Trad. J. R. Siqueira. São Paulo: Companhia das Letras, 2016.

OLIVEIRA TOLEDO, Dionísio de. (org.). Teoria da Literatura. Formalistas Russos. Porto Alegre: Editora Globo, 1971.

SCHULZ, Bruno. Sanatorium pod Klepsydrą. Bletchley: JiaHu Books, 2017.

SCHULZ, Bruno. Lojas de canela e outras narrativas. Trad. H. Siewierski. São Paulo: Editora 34, 2019.

VINCENT-BUFFAULT, Anne. The History of Tears. Sensibility and Sentimentality in France. Londres: The Macmillan Press, 1991.

Downloads

Publicado

2022-08-26

Como Citar

Kempinska, O. (2022). ESTRANHAMENTO (UNHOMELINESS) E A TRISTEZA. fólio - Revista De Letras, 14(1). https://doi.org/10.22481/folio.v14i1.11119

Edição

Seção

VERTENTES & INTERFACES I: Estudos Literários e Comparados