Intermaths: Revista de Matemática Aplicada e Interdisciplinar (ISSN: 2675-8318)
DOI: https://doi.org/10.22481/intermaths.v5i2.15055
A Forma Matricial da Identidade de Euler
The Matrix Form of Euler’s Identity
Resumo
O presente artigo aborda a representação matricial de números complexos e explora suas principais propriedades, com ênfase na identidade de Euler. O texto foi desenvolvido em uma linguagem simples, buscando possibilitar seu uso por alunos da licenciatura em matemática e professores da Educação Básica que visam aprofundar o aprendizado e promover uma compreensão mais ampla dessa área de conhecimento.
Palavras-chave: Matriz; Número complexo; Euler.
Abstract
This paper addresses the matrix representation of complex numbers and explores its main properties, with an emphasis on Euler identity. The text was developed in a simple language, seeking to enable its use by mathematics degree students and Basic Education teachers
Keywords: Matrix; Complex number; Euler.
1 INTRODUÇÃO
A identidade de Euler, em sua forma clássica
é referenciada em Crease [3, p.92] e em [1, p.326] de modo enfático por sua beleza e importância, já que reune conceitos básicos da matemática numa só expressão, tais como as operações de adição, potenciação e multiplicação. Nela, estão presentes os números inteiros , elemento neutro aditivo e , elemento neutro multiplicativo, o número imaginário , os números irracionais pi (), razão entre o comprimento da circunferência e seu diâmetro, e , denominado número de Euler, base dos logarítmos naturais. Além disso, ela é impactante pois nos apresenta uma soma do número com uma potência do número positivo , tendo como expoente o produto de com o número imaginário e tudo isso sendo igual a zero. Mas quem foi Euler? Segundo Boyer [1, p.324], Leonhard Euler foi um matemático Suiço que nasceu na Basiléia em 1707 e faleceu em 1783. De acordo com [1, p.325 e 327], deixou um grande legado, tanto na matemática pura como na matemática aplicada, produzindo mais de quinhentos livros e artigos. Destaca-se ainda a criação de uma importante área da matemática chamada de análise, fundamental na resolução de problemas pertencentes a geometria e matemática aplicada. Lembremos agora como os números complexos são abordados na forma mais usual. Em Soares [13, p.1], observamos que podemos iniciar a abordagem dos números complexos buscando a solução da equação Sabemos que em não existe solução para esta equação, então é necessário a definição de um conjunto em que ela passe a ter solução. Seja a solução da equação, isto é, , que não é um número real. O símbolo é chamado algarismo imaginário e os elementos da forma são chamados de números complexos, em que é a parte real e a parte imaginária, denotados por e , respectivamente. No conjunto dos números complexos, denotado por , as operações de adição e multiplicação são definidas da seguinte forma: seja e in , então , enquanto que , do Carmo [10, pp.68-69]. Em Conway [2, p.1] e Soares [13, p.5], números complexos são pares ordenados , onde e são números reais, satisfazendo as operações de adição e multiplicação, definidas por e , respectivamente. E dessa forma é um corpo. Agora, o corpo é imerso em via isomorfismo e sendo por definição então . Portanto, é o mesmo que .
Neste artigo, aborda-se os números complexos em sua forma matricial, de conformidade com [11] e [13]. Dentro deste contexto apresenta-se a Identidade de Euler em sua forma matricial. É importante observar que as representações de objetos matemáticos por matrizes são de fundamental importância tendo em vista a velocidade com que são realizadas as operações matricias usando algorítmos eficientes, o que é crucial em computação. Podemos citar como exemplo as rotações no plano, que podem ser representadas pela matriz de rotação. Representações dessa natureza são fundamentais em áreas como computação gráfica (Veja [6, p.75], [7, p.60]).
Este artigo está organizado da seguinte forma: Na seção dois são estudadas a representação matricial dos números complexos e suas propriedades, necessárias ao entendimento do texto. Além disso, as propriedades podem ser comparadas nas abordagens algébrica e matricial. Na seção três apresenta-se a forma polar e a identidade de Euler e sobre o artigo.m sua forma matricial, com base na matriz exponencial e suas propriedades. Na seção quatro são apresentadas as considerações finais sobre o artigo.
Por fim, destacamos que este artigo é parte de uma dissertação apresentada no Mestrado Profissional em Matemática em Rede Nacional-PROFMAT, produzida na Universidade Federal de Roraima-UFRR, e escrita pelo segundo Autor sob a orientação do primeiro Autor (veja [12]).
2 REPRESENTAÇÃO MATRICIAL DOS NÚMEROS COMPLEXOS
Nesta seção abordaremos a representação matricial dos números complexos. Consideremos o conjunto . Observe que o conjunto é não
vazio, pois . Vamos definir a função por
A seguinte proposição nos garante que tem estrutura de corpo e sua demonstração pode ser vista em Oliveira & Santos [11].
Proposição 2.1.
A função definida por satisfaz as seguintes propriedades:
- i)
-
, para todo ;
- ii)
-
, para todo ;
- iii)
-
, para todo .
- iv)
-
;
- v)
-
, onde
- vi)
-
A função é bijetiva.
Devido ao fato de ser uma aplicação bijetiva conservando as operações de adição e multiplicação e suas propriedades, concluímos que as matrizes da forma se comportam da mesma maneira que os números complexos em relação à soma e ao produto. Assim, para cada número complexo associamos a matriz
Temos então que Como na motivação para criar os números complexos , onde é a solução da equação , temos que é a solução da equação matricial
Se sabemos que o módulo de é dado por . E como seria o módulo de ?
Como em Lima [9, p.10], ela é definida por
(2.1) |
Por fim, apresentamos a Tabela 1 que traz uma síntese dos principais resultados, cuja demonstração podem ser encontradas em Oliveira & Silva [11], onde podemos comparar as propriedades nas abordagens algébrica e matricial.
Representação algébrica | Representação matricial |
---|---|
Fonte: Autores
3 A IDENTIDADE DE EULER NA FORMA MATRICIAL
Nesta seção veremos como se apresenta a identidade de Euler em sua forma matricial. Para tanto necessitaremos da definição da exponencial de uma matriz.
Conforme Doering [4], a matriz exponencial de uma matriz é definida por
(3.1) |
onde por definição , e .
Em particular (3.1) vale para as matrizes .
Podemos verificar, neste contexto, que de fato a exponencial (3.1) está bem definida. Para tanto precisamos da seguinte proposição:
Proposição 3.1.
Dado , então
-
1.
-
2.
E para demonstramos a Proposição 3.1 precisamos dos seguinte lemas:
Lema 3.2.
As séries absolutamente convergentes em são convergentes.
Conforme Doering [4] uma série em é dita absolutamente convergente se a série for convergente. A prova do Lema 3.2 se encontra em Doering [4].
O próximo lema encontra-se em Oliveira & Silva [11], mas ao contrário do que ocorre nesta referência, aqui iremos demonstra-lo.
Lema 3.3.
Dados , então .
Demonstração:.
Sejam e elementos de , então
Logo
Portanto,
∎
Na demonstração da Proposição 3.1, item (1.), podemos usar indução completa aplicando o Lema 3.3, enquanto que o item (2.), demonstra-se usando a desigualdade triangular e o item (1.) da referida proposição.
Lembremos agora, que a série de Taylor da função exponencial, é dada por
conforme pode ser visto em Lima [8, p.291]. Então
(3.2) |
(3.3) |
A desigualdade (3.3) nos mostra que a série é absolutamente convergente e portanto, pelo Lema 3.3, ela é convergente. Concluímos então que a série (3.1) está bem definida.
Isso mostra que a matriz exponencial de uma matriz está bem definida. O seguinte lema é provado por indução.
Lema 3.4.
As potências de para números:
-
1.
pares são dadas por:
-
2.
ímpares são dadas por:
Agora apresentaremos a forma polar de um número complexo na versão matricial.
Teorema 3.5.
(Forma polar) Seja , então
Demonstração:.
Iniciamos a demonstraçao lembrando que as séries de Taylor das funções seno e cosseno, conforme pode ser visto em Lima [8, p.291], são dadas por:
Sendo
pelo lema (3.4) temos:
∎
E finalmente, para o caso particular em que , obtemos a versão matricial da identidade de Euler:
Ou equivalentemente,
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Este trabalho abordou a representação matricial de números complexos explorando algumas propriedades. Inicialmente foram estudadas a representação matricial de um número complexo e algumas propriedades básicas. Na sequência, foram comparadas as propriedades dos números complexos em sua forma algébrica e matricial. E finalmente, foi apresentada a representação matricial da identidade de Euler. Espera-se que este trabalho contribua significativamente para as atividades de pesquisa dos estudantes dos Cursos de Licenciatura em Matemática e também dos professores do Ensino Médio, ao lecionarem disciplinas eletivas, visando aprimorar a formação matemática dos alunos.
Referências
- [1] C. B. Boyer. História da Matemática, ed. Editora Edgar Blcher LTDA, São Paulo, 1993.
- [2] J. B. Conway. Functions of One Complex Variable. Springer-Verlag, New York, 1978.
- [3] R. P. Crease. As Grandes Equações: a História das Fórmulas Matemáticas Mais Importantes e os Cientistas Que as Criaram; tradução Alexandre Cherman. Zahar, Rio de Janeiro, 2011.
- [4] C. I. Doering; A. O.Lopes. Equações Diferenciais Ordinárias. Coleção Matemática Universitária. Instituto Nacional de Matemática Pura e Aplicada, Rio de Janeiro, 2007.
- [5] C. E. Fernandez; N.C. Bernades Jr. Introdução às Funções de Uma Variável Complexa. Sociedade Brasileira de Matemática, Rio de Janeiro, 2006.
- [6] J. Gomes; L. Velho. Sistemas Gráficos 3D. Instituto Nacional de Matemática Pura e Aplicada-IMPA, Rio de Janeiro, 2007.
- [7] J. Gomes; L. Velho. Fundamentos da Computação Gráfica. Instituto Nacional de Matemática Pura e Aplicada-IMPA, Rio de Janeiro, 2015.
- [8] E. L. Lima. Curso de Análise vol. 1. Coleção Projeto Euclides. Associação Instituto Nacional de Matemática Pura e Aplicada-IMPA, Rio de Janeiro, 2007.
- [9] E. L. Lima. Curso de Análise vol. 2. Coleção Projeto Euclides. Associação Instituto Nacional de Matemática Pura e Aplicada-IMPA, Rio de Janeiro, 2005.
- [10] M. P. do Carmo, A. C. Morgado, E. Wagner. Trigonometria, Números Complexos. Coleção do Professor de Matemática. Sociedade Brasileira de Matemática, Rio de Janeiro, 1993.
- [11] J. de Oliveira, S. M. Silva. “The complex numbers of the Matricial View Point”, Brazilian Journal of Development. vol. 7, p.66086 - 66093,2021. https://doi.org/10.34117/bjdv7n7-062
- [12] S. M.SILVA. “Números complexos: uma abordagem matricial”. Dissertação (PROFMAT), Universidade Federal de Roraima, Boa Vista-RR, 2017.
- [13] M. S. Soares. Cálculo em Uma Variável Complexa. Coleção Matemática Universitária. Associação Instituto Nacional de Matemática Pura e Aplicada-IMPA, Rio de Janeiro, 2016.