DOI: 10.22481/intermaths.v3i1.11035

Centro Universitário SENAI CIMATEC, Salvador, BA, Brasil

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ORCID logo https://orcid.org/0000-0001-5598-2679

Breve Biografia
Thiago Murari é Professor Permanente no Centro Universitário SENAI CIMATEC do PPG Stricto Sensu em Gestão e Tecnologia Industrial (GETEC). Pesquisador em tópicos relacionados com Inovação, Indústria 4.0, Sistemas Complexos, Mobilidade e Sustentabilidade é também Coordenador do Grupo de Pesquisa no CNPq - NÚCLEO DE PESQUISA APLICADA E INOVAÇÃO (NPAI). Ele também atuou como analista de engenharia na Ford Motor Company, onde foi responsável pelo desenvolvimento e projeto de componentes do interior do veículo em plataformas globais, onde, desde 2006, atuou em diversas posições dentro do grupo de Inovação Digital. Thiago recebeu seu título de Doutor em Modelagem Computacional e Tecnologia Industrial pelo Centro Universitário SENAI CIMATEC.


Publicado: 30 de junho de 2022





INFODEMIA é o excesso de informação, muitas vezes acompanhada de desinformação, que dificulta encontrar fontes adequadas e orientações confiáveis para um determinado assunto, além de ser capaz de se multiplicar exponencialmente em pouco tempo devido a um evento como a pandemia de Covid-19 [1]. Esse termo apareceu pela primeira vez em maio de 2003 durante a pandemia de Síndrome Respiratória Aguda Grave no artigo “When the Buzz Bites Back” do jornalista David J. Rothkopf [2] e é utilizado atualmente pela Organização Mundial de Saúde (OMS) nas publicações para o combate a desinformação proveniente das redes sociais. Entre 2018 e 2022 o termo “Infodemic” foi utilizado em 8343 publicações científicas, demonstrando o crescente interesse pelo tema a partir do início da Pandemia de COVID-19 (Figura 1). A pesquisa foi efetuada no dia 28/06/2022 utilizando o Dimensions.ai, um sistema de informações de pesquisa fornecido pela Digital Science (https://www.dimensions.ai).

Figura 1: Publicações científicas que contém o termoInfodemic entre janeiro de 2018 e junho de 2022.

Notícias falsas, desinformação e inúmeras teorias da conspiração se tornaram constantes desde o início desta pandemia e isto tem relação direta com a infodemia que vivemos, que surge da interação entre a grande ou especializada mídia na internet e a mídia informal, como em conversas, mensagens de texto ou e-mails, onde se transmite uma combinação de boatos, fatos, interpretações e propaganda [2]. Galhardi et al. [3] mostrou que o aplicativo de mensagens WhatsApp é a plataforma mais utilizada para disseminação de desinformação. Moscadelli et al. [4] analisaram 2102 artigos durante o período de 31 de dezembro de 2019 e 30 de abril de 2020 na Itália e demonstraram que artigos que continham desinformação forma compartilhados mais de 2 milhões de vezes representando 23,1% do total de compartilhamentos entre os artigos revistos.

Claire Wardle, especialista em conteúdo gerado pelo usuário, verificação e desinformação e diretora da First Draft, a principal organização sem fins lucrativos do mundo focada em pesquisa e prática para lidar com desinformação, identificou três aspectos de quem se beneficia com a desinformação: ganho financeiro, ganho político e manipulação experimental. E a indústria anti-vacina é certamente um exemplo do benefício de ganho financeiro com a desinformação [5]. Estima-se uma receita anual de até USD 1 bilhão para gigantes de mídia social proveniente dos mais de 58 milhões de seguidores do movimento anti-vacina, além do enorme potencial de vendas de produtos por meio de propaganda direcionada para este público [6].

Esta propaganda anti-vacina é proveniente de um grupo de propagandistas profissionais que comandam organizações multimilionárias principalmente nos Estados Unidos. E, aparentemente a solução mais simples seria remover os superdisseminadores de desinformação anti-vacina das grandes plataformas de mídia social da ‘big techs’. Apesar de não haver justificativa moral para lucrar com desinformação e nem barreira legal para que estas empresas removam estes propagandistas por violação de seus termos de serviço, o modelo de negócio destas organizações é dependente de usuários que consumem conteúdo intercalado com publicidade e por este motivo falham em agir independentemente do impacto desse conteúdo na sociedade [7].

Neste contexto, torna-se cada vez mais importante que pesquisadores ao redor do mundo sejam disseminadores de fontes adequadas e orientações confiáveis. Existem vários exemplos de como combater a infodemia que vivemos por meio da pesquisa e divulgação de trabalhos científicos. Entre os exemplos das grandes organizações, temos o time de comunicação da Organização Mundial de Saúde (OMS) lançou uma nova plataforma de informação chamada WHO Information Network for Epidemics (EPI-WIN), com o objetivo de amplificar o compartilhamento de informações confiáveis para manter as pessoas informadas sobre como agir de forma apropriada [1]. Essa equipe da OMS também é responsável por encontrar respostas baseadas em evidências científicas para perguntas e rumores que estejam se espalhando nas redes sociais.

Em um segundo momento as empresas de tecnologia responsáveis pelas redes sociais melhoraram os resultados dos seus mecanismos de buscas trazendo informações relevantes de fontes legítimas e confiáveis quando o usuário procura por termos relacionados com a Pandemia, como ‘coronavírus’ ou ‘COVID-19’. Desta forma elas procuram neutralizar o conteúdo anti-vacinação como parte de esforços mais amplos para reduzir a desinformação [8]. O Instagram, por exemplo, traz uma caixa como primeiro resultado da pesquisa com um link para sua página de informações chamada ‘COVID-19: Central de Informações’ (https://www.instagram.com/coronavirus_info/) onde apresenta fatos sobre as vacinas que foram coletados nos sites da Organização Mundial da Saúde e da GAVI, Aliança para Vacinas.

Esforços de pequenos times de pesquisadores, ou até mesmo de indivíduos, também são capazes de ajudar o combate a desinformação. Um exemplo é Patwa et al. [9], que selecionaram e divulgaram um conjunto de dados balanceados em termos de classe de 10.700 postagens de mídia social e artigos de notícias reais e falsas sobre o COVID-19 (https://github.com/parthpatwa/covid19-fake-news-detection). Uma vez que informações de fontes confiáveis e questionáveis não apresentam padrões de disseminação diferentes em redes sociais [10], estes tipos de banco de dados podem ser utilizados para desenvolver algoritmos automáticos de detecção de notícias falsas e rumores e aplicados em tempo real nas redes sociais.

Dessa forma, cada artigo científico publicado em periódicos relevantes pode ser utilizado pela OMS, pela grande mídia e pelas grandes empresas de tecnologia para responder as perguntas e rumores que constantemente são compartilhados nas redes sociais. Neste cenário, o principal papel do pesquisador e dos times de pesquisa científica é produzir e publicar notas técnicas, artigos e livros revisados por pares que sejam relevantes para combatermos a pandemia de COVID-19, e as próximas pandemias que ainda estão por vir.

Aproveitando o potencial de difusão da informação das redes sociais, acredito que os pesquisadores devem utilizar estas mesmas redes para divulgar seus trabalhos, utilizando-se dos principais hashtags que repercutem nas redes sociais no momento da publicação de forma a impactar o maior público possível para disseminar informação confiável e combater a infodemia. Além disso, espero ver avanços em pesquisas para o desenvolvimento e organização de bancos de dados abertos relevantes sobre a Pandemia e em algoritmos de inteligência artificial para detecção e combate em tempo real da divulgação em massa de notícias falsas e desinformação.

Referências

1. J. Zarocostas, “How to fight an infodemic,” The lancet, vol. 395, no. 10225, p. 676, 2020. https://doi.org/10.1016/S0140-6736(20)30461-X

2. ROTHKOPF, David J. When the buzz bites back. The Washington Post, vol. 11, pp. B1-B5, 2003.

3. C. P. Galhardi, N. P. Freire, M. C. D. S. Minayo and M. C. M. Fagundes, “Fact or fake? An analysis of disinformation regarding the Covid-19 pandemic in Brazil,” Ciência & Saúde Coletiva, vol. 25, pp. 4201-4210, 2020. https://doi.org/10.1590/1413-812320202510.2.28922020

4. A. Moscadelli, G. Albora, M. A. Biamonte, D. Giorgetti, M. Innocenzio, S. Paoli, C. Lorini, P. Bonanni and G. Bonaccorsi, “Fake News and Covid-19 in Italy: Results of a Quantitative Observational Study,” International Journal of Environmental Research and Public Health, vol. 17, no. 16, p. 5850, 2020. http://dx.doi.org/10.3390/ijerph17165850

5. The Lancet Infectious diseases, “The COVID-19 infodemic,” , vol. 20, no. 8, p. 875, 2020. https://doi.org/10.1016/S1473-3099(20)30565-X

6. Center for Countering Digital Hate. The anti-vaxx industry, 2020. [online]. https://www.counterhate.com/anti-vaxx-industry.

7. I. Ahmed, “Dismantling the anti-vaxx industry,” Nature Medicine, vol. 27, no. 3, p. 366-366, 2021. https://doi.org/10.1038/s41591-021-01260-6

8. J. Donovan, “Social-media companies must flatten the curve of misinformation,” Nature, 2020. https://doi.org/10.1038/d41586-020-01107-z

9. P. Patwa, S. Sharma, S. Pykl, V. Guptha, G. Kumari, Md Shad Akhtar, Asif Ekbal, A. Das and T. Chakraborty, “Fighting an infodemic: Covid-19 fake news dataset”. In: International Workshop on Combating On line Ho st ile Posts in Regional Languages dur ing Emerge ncy Si tuation, Springer, vol. 1402, Cham, 2021, pp. 21-29, https://doi.org/10.1007/978-3-030-73696-5_3

10. M. Cinelli, W. Quattrociocchi, A. Galeazzi, C. M. Valensise, E. Brugnoli, Ana Lúcia Schmidt, P. Zola, F. Zollo and A. Scala, “The COVID-19 social media infodemic,” Scientific reports, vol. 10, no. 1, pp. 1-10, 2020. https://doi.org/10.1038/s41598-020-73510-5




INTERMATHS, 3(1), 3–7, 2022