Embates ontológicos e epistemológicos com mulheres amefricanas: autonomia e independência em uma economia “informalizada”

Autores

DOI:

https://doi.org/10.22481/odeere.v7i1.10494

Palavras-chave:

Matriarcado, Mulheres, Tecnologias Econômicas Autóctones, Economia "informal", Endogeneidade epistemológica

Resumo

O notável lugar de destaque e o papel central das mulheres nas sociedades africanas pré-coloniais tem sido inferiorizado em empreendimentos coloniais de devastação dos modos de ser africano, com desdobramentos particulares sobre as mulheres em função da instrusão da hierarquia de gênero e da consequente generificação do trabalho. A descaracterização e criminalização das organizações socioeconômicas autóctones, matrifocalizadas, expressa-se pela nomenclatura de “economias informais”. À vista disso, o presente artigo teórico-empírico tem como objetivo articular como a categoria “matriarcado” se aplica à lógica de organização socioeconômica reinventada na contemporaneidade, produzindo autonomia e independência de mulheres. Iniciamos com o embate ontológico e epistemológico que incita a resiliência das estruturas familiares e econômicas matriarcais nas Améfricas. Em seguida, na etapa empírica, constatamos as manifestações da matrifocalidade partir de relatos de lideranças de organizações econômicas e religiosas de matriz africana. Tais tecnologias econômicas matricentradas representam fonte de geração de vida individual e coletiva e – sobretudo – a capacidade de reinvenção dos princípios do matriarcado nas Améfricas contemporâneas.

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Biografia do Autor

Bas'Ilele Malomalo, Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira

Doutor em Sociologia pela Universidade Estadual Paulista Júlio Mesquista/UNESP (2010), é docente de graduação nos cursos das Relações Internacionais, Ciências sociais, Mestrado Interdisciplinar em Humanidades (MIH) do Instituto de Humanidades e Letras (IHL) da Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira (UNILAB), docente colaborador no Programa de Pós-Graduação em Políticas Sociais e Cidadania (PPPSC) da Universidade Católica de Salvador (UCSAL), coordenador do Grupo de Pesquisa África-Brasil: Produção de conhecimentos, sociedade civil, desenvolvimento e cidadania global, pesquisador associado do Centro dos Estudos das Culturas e Línguas Africanas e da Diáspora Negra (CLADIN-UNESP); INTERSSAN/UNESP; da Rede para o Constitucionalismo Democrático Latino-Americano, Pesquisador e membro do Comitê Internacional da Cadeira da Unesco Educação Transformadora, Democracia e Cidadania Mundial, da UQO, Canadá e expert da plataforma Harmony With Nature/ONU. Tem experiência na área de Ciências sociais, Historia da África e do Negro no Brasil e Filosofia africana, atuando principalmente nos temas seguintes: sociologia africana, estudos das relações raciais, multiculturalismo, migrações e Filosofia africana cooperação internacional, desenvolvimento sustentável, direitos da natureza, segurança alimentar e nutricional. E-mail: escolaafricana@gmail.com

Lúcia de Toledo França Bueno, Universidade Federal de Uberlândia (UFU)

Mestranda em Relações Internacionais pelo Instituto de Economia e Relações Internacionais da Universidade Federal de Uberlândia (IERI - UFU). Bacharela em Relações Internacionais pela mesma instituição (2022), com missão de Mobilidade Internacional na Universidade de Poitiers, na França, durante um ano (2019-2020). Integra o NUPEDH: Núcleo de Pesquisas e Estudos em Direitos Humanos - UFU sob orientação da Profª Drª Marrielle Maia (coordenadora da Cátedra Sergio Vieira de Melo - parceria UFU e ACNUR/ONU). Compõe o Grupo de Pesquisa África-Brasil: Produção de Conhecimentos, Sociedade Civil, Desenvolvimento e Cidadania Global, vinculado ao Instituto de Humanidade e Letras (IHL) da Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira (Unilab), bem como contribui ativamente com o Projeto de Extensão Latitudes Africanas, ambos coordenados pelo professor Bas'Ilele Malomalo (Unilab Bahia - Campus dos Malês). Membro do Grupo de Pesquisa Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros (NEAB/UFU) onde também atuou como extensionista de 2020 a 2021. Cofundou e, de 2018 a 2021, esteve Coordenadora Executiva Geral do Núcleo de Extensão de Negritude e Indigenato em Relações Internacionais (NEGRI). Dedicou-se como Codiretora de Logística e Experiência à Coordenação Geral do XXIV Encontro Nacional de Estudantes de Relações Internacionais (ENERI 2019). Desenvolveu Iniciação Científica enquanto pesquisadora bolsista da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (FAPEMIG/PIBIC, em 2017 e 2018) sob orientação do Profº Drº Pedro Henrique de Moraes Cícero (UFU). Os trabalhos de pesquisa concentram-se nas áreas: Migrações e Mobilidade Humana, África Contemporânea, Diásporas Africanas, Economia Política, Instituições Internacionais, Filosofias Africanas, Mulheres, Desenvolvimento Socioeconômico e Educação para as Relações Étnico-Raciais. E-mail: lucia.toledobueno@gmail.com

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Publicado

2022-05-02

Como Citar

Malomalo, B., & Bueno, L. de T. F. (2022). Embates ontológicos e epistemológicos com mulheres amefricanas: autonomia e independência em uma economia “informalizada” . ODEERE, 7(1), 107-125. https://doi.org/10.22481/odeere.v7i1.10494