Outras histórias do povo de santo, feiticeiras e curandeiros soteropolitanos. (1930-1960)
DOI:
https://doi.org/10.22481/odeere.v3i3.1577Resumo
Esse texto preocupa-se com universo religioso afro-brasileiro, em Salvador, no período que compreende as décadas de 1930 e 1960. A partir dos indícios de práticas religiosas identificadas em processos criminais e jornais que envolveram supostos curandeiros, adeptos do candomblé e feiticeiros. Buscando diversificar as práticas religiosas analisadas, o estudo contemplou casos e que evidenciam o cotidiano religioso baiano com características que destoam da propalada “baianidade nagô”. O debate sobre pureza iniciado pelos pesquisadores na década de 1980 abriu espaço para 926 problematizar de forma mais profunda as relações entre o povo de santo, trazendo à tona práticas, deuses e rituais que não foram tratados pelos estudos afro-brasileiros, que hierarquizaram saberes e experiências com um crivo semelhante ao que vigora nos terreiros tidos como tradicionais na Bahia. A documentação analisada trouxe à tona rituais que envolveram caboclos e encantados, envolvidos em feitiços, rezas, passes e defumações.. A problematização das fontes permitiu reunir indícios acerca das práticas religiosas afro-brasileiras, assim como trazer à tona o cotidiano dos réus e de pessoas que o cercavam, vinculando as crenças e rituais ao contexto dos envolvidos nos processos. Interessa especialmente buscar caminhos na história que deem conta da discussão de cultura. Nessa abordagem, as estratégias adotadas pela História Social da Cultura preocupam-se com os significados das práticas, a partir do contexto em que estão inseridas, ou seja, interessam os significados compreendidos em seu tempo, o que pode ocorrer ao evidenciar a pluralidade de prá- ticas heterodoxas homogeneizadas em termos genéricos como “candomblé”. Ao tratar a tradição inserida em um contexto específico, deixando de abordá-la como um aglomerado de costumes congelados, aspectos constantemente repetidos que acabaram sendo tomado como dados na história dos candomblés deixam de fazer sentido. Proponho bagunçar a imagem pronta que costuma vir a mente quando falamos em candomblé, para compreendê-lo no contexto em que estava inserido.
Palavras-Chave: Candomblé, Feitiçaria, Curandeirismo, Práticas afro-religiosas Heterodoxas, Salvador.
Downloads
Referências
BASTIDE, Roger. Estudos Afro-brasileiros. São Paulo: Editora Perspectiva, 1973.
BASTIDE, Roger. O candomblé da Bahia. São Paulo: Companhia das Letras, 2001.
BASTIDE, Roger. Religiões Africanas no Brasil. 2 ed. São Paulo: Livraria Pioneira, 1985.
BRASIL. Código Penal de 1890. Decreto N. 847 – De 11 de Outubro 1890. Disponível em: http://legis.senado.gov.br/legislacao/
ListaNormas.action?numero=847&tipo_norma=DEC&data=1 8901011&link=s. Acesso em: 08/11/2013.
BRASIL. Lei de Contravenções Penais, instituído pelo Decreto-lei nº 3.688, de 1941. Acesso em 15/11/2013 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/del3688.htm
CAPONE, Stefania. A busca da África no candomblé. Tradição e poder no Brasil. Rio de Janeiro: Contra Capa Livraria/Pallas, 2004.
CARNEIRO, Edison. Candomblés da Bahia. 9ª ed. São Paulo: Editora WMF Martins Fontes, 2008. (Raízes)
CARNEIRO, Edison. Religiões Negras e Negros Bantus. 3ª ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1991.
CASTILLO, Lisa E. Entre a oralidade e a escrita. A etnografia nos candomblés da Bahia. Salvador: Edufba, 2010. https://doi.org/10.7476/9788523211875
DANTAS, Beatriz Góes. Vovó Nagô Papai Branco. Usos e Abusos da África no Brasil. Rio de Janeiro: Graal, 1988.
ELBEIN, Juana. Os Nagô e a Morte. Rio de Janeiro: Vozes, 1975.
GESCHIERE, Peter. “Witchcraft and modernity: Perspectives from Africa and Beyond” In: PARES, Luis N. and SANSI, Roger. Sorcery in the Black Atlantic. Chicago: University of Chicago Press, 2011.
GINZBURG, Carlo. História noturna. São Paulo: Companhia das Letras, 2012.
GINZBURG, Carlo. O fio e os rastros. Verdadeiro, falso e fictício. São Paulo: Companhia das Letras, 2007.
GOLDMAN, Marcio. “Histórias, devires e fetiches das religiões afro-brasileiras: ensaio de simetrização antropológica”, Análise Social, vol. XLIV (190), 2009, 105-137.
GOLDMAN, Marcio. “O dom e a iniciação revisitados: o dado e o feito em religiões de matriz africana no Brasil”. Mana. V. 18, 2, 2012, 269-288. https://doi.org/10.1590/s0104-93132012000200002
GOLDMAN, Marcio. “Os tambores dos mortos e os tambores dos vivos. Etnografia, antropologia e política em Ilhéus, Bahia” Revista de Antropologia. São Paulo, V. 46, 2, (2003), 445-476. https://doi.org/10.1590/s0034-77012003000200012
JOHNSON, Paul C. Secrets, gossip, and gods: the transformation of Brazilian candomblé. New York: Oxford University Press, 2002.
LEAL, Luiz Augusto P. Nossos intelectuais e os chefes de mandinga: repressão, engajamento e liberdade de culto na Amazônia (1937-1951). Tese de doutoramento em Estudos Étnicos e Africanos. Salvador: Universidade Federal da Bahia, 2011.
LIMA, Vivaldo da Costa. “Os obás de Xangô”. Afro-Ásia, Salvador: Centro de Estudos Afro-Orientais da UFBA, n 2-3, jun/dez 1996, 5-36.
LIMA, Vivaldo da Costa. “O candomblé da Bahia na década de 30.” In: OLIVEIRA, Waldir Freitas; LIMA, Vivaldo da Costa. (Orgs.) Cartas de Édison Carneiro a Artur Ramos. Salvador: Corrupio, Série Baianada, n. 5, 1987.
LIMA, Vivaldo da Costa. A família de santo nos candomblés jeje-nagôs da Bahia. 2 ed. Salvador. 1977. MAGGIE, Yvone. Medo do Feitiço: Relações entre magia e poder no Brasil. Rio de Janeiro. Tese de Doutorado em Antropologia Social, Museu Nacional / UFRJ, 1988.
MARIANO, Agnes. A invenção da baianidade. São Paulo: Annablume, 2009.
MATORY, J. L. “Jeje: repensando nações e transnacionalismo” Mana. Vol. 5. Nº 1, 1999, 57-80. https://doi.org/10.1590/s0104-93131999000100003
MATORY, J. L. “Yorubá: as rotas e as raízes da nação transatlântica, 1830-1950” Horizontes Antropológicos, vol. 4, 9, 1998, 263-292. https://doi.org/10.1590/s0104-71831998000200013
OLIVEIRA, Iris Verena S. de. O feitiço da cura. Histórias do povo de santo, feiticeiras e curandeiros da Bahia. (1930-1960) Tese (Doutorado em Estudos Étnicos e Africanos) Universidade Federal da Bahia: Salvador, 2014.
OLIVEIRA, Josivaldo P. “Adeptos da mandinga”: candomblés, curandeiros e repressão policial na princesa do sertão (Feira de Santana-Ba, 1938-1970) Tese de doutoramento em Estudos Étnicos e Africanos. Salvador: Universidade Federal da Bahia, 2010.
OLIVEIRA, Waldir F. “Os estudos africanistas na Bahia dos anos 30” In: OLIVEIRA, Waldir e LIMA, Vivaldo da C. Cartas de Édison Carneiro a Artur Ramos. De 4 de janeiro 1936 a 6 de dezembro de 1938. Salvador: Corrupio, 1987.
PARÉS, Luis N. A Formação do Candomblé. História e ritual da nação jêje na Bahia. Campinas: Unicamp, 2006.
PARÉS, Luis N. “Memórias da escravidão no ritual religioso: uma comparação entre o culto aos voduns no Benim e no candomblé baiano” In: REIS, João J. e AZEVEDO, Elciene. Escravidão e suas sombras. Salvador: Edufba, 2012.
PARÉS, Luis N. & CASTILLO, Lisa. “Marcelina da Silva e seu mundo: novos dados para uma historiografia do candomblé Ketu” Afro-Ásia. 36, 2007, 111-151.
PARÉS, Luis N. and SANSI, Roger. “Introduction: Sorcery in the Black Atlantic” In: PARÉS, Luis N. and SANSI, R. Sorcery in the Black Atlantic. Chicago: The University of Chicago Press, 2007.
PARÉS, Luis N. “O processo de crioulização no Recôncavo baiano” Afro-Ásia, V. 33, 2005.
PRANDI, Reginaldo.(Org.) Encantaria brasileira: O livro dos mestres, caboclos e encantados. Rio de Janeiro: Pallas, 2004.
RABELO, Miriam. “A possessão como prática: esboço de uma reflexão fenomenológica.” Mana, V. 14, 2008, 87-117. https://doi.org/10.1590/s0104-93132008000100004
RABELO, Miriam. Enredos, feituras e modos de cuidado: dimensões da vida e da convivência no candomblé. Salvador: Edufba, 2014.
RAMOS, Artur. A Aculturação Negra no Brasil. Companhia Editora Nacional: São Paulo, 1942. RODRIGUES, Nina. O animismo fetichista dos negros baianos. 2ª ed. Salvador: P555, 2005.
SANSI, Roger. “Fazer o santo”: dom, iniciação e historicidade nas religiões afro-brasileiras”, Análise Social, vol. XLIV (1.º), 2009, 139-160.
SANSI, Roger. Fetishes & Monuments. Afro-Brazilian art and culture in the 20th century. New York: Berghahn Books, 2007.
SANTOS, Edmar F. O poder dos candomblés: Perseguição e resistência no Recôncavo da Bahia. Salvador: Edufba, 2009.
THOMPSON, E. P. Costumes em Comum. São Paulo: Companhia das Letras, 2002.
TROMBONI, Marco. “A jurema das ramas até o tronco. Ensaio sobre algumas categorias de classificação religiosa” In: Carvalho, Ana Magda e Carvalho, Maria do Rosário. Índios e caboclos: a história recontada. Salvador: Edufba, 2010.
VERGER, Pierre. Orixás. Salvador: Corrupio, 2002.
Downloads
Publicado
Como Citar
Edição
Seção
Licença
Copyright (c) 2021 ODEERE
Este trabalho está licenciado sob uma licença Creative Commons Attribution 4.0 International License.
Você é livre para:
Compartilhar - copia e redistribui o material em qualquer meio ou formato; Adapte - remixe, transforme e construa a partir do material para qualquer propósito, mesmo comercialmente. Esta licença é aceitável para Obras Culturais Livres. O licenciante não pode revogar essas liberdades, desde que você siga os termos da licença.
Sob os seguintes termos:
Atribuição - você deve dar o crédito apropriado, fornecer um link para a licença e indicar se alguma alteração foi feita. Você pode fazer isso de qualquer maneira razoável, mas não de uma forma que sugira que você ou seu uso seja aprovado pelo licenciante.
Não há restrições adicionais - Você não pode aplicar termos legais ou medidas tecnológicas que restrinjam legalmente outros para fazer qualquer uso permitido pela licença.