Entre discursos intolerantes e privilégios religiosos: práticas discursivas sobre religiões de matrizes africanas no cárcere baiano
DOI:
https://doi.org/10.22481/odeere.v4i8.5763Palavras-chave:
Intolerância Religiosa, Racismo, Sistema Prisional, Psicologia Social Construcionista, Práticas DiscursivasResumo
Nesta comunicação, discutimos os discursos intolerantes e privilégios religiosos que circulam no contexto prisional baiano, que por um lado afeta a presença e expressão de religiosidades de matriz africana através de processos de demonização, desqualificação e desautorização religiosa, por outro, produz privilégios direcionados a cristãos, em especial, vinculados as vertentes evangélicas/protestantes. Os dados apresentados são oriundos de parte da dissertação intitulada “nome suprimido”, desenvolvida no Programa (nome suprimido). Adotamos a perspectiva da psicologia social, sustentada teórico-metodologicamente no movimento do Construcionismo Social. Além disso, utilizamos contribuições mais específicas que situam os processos de racialização e seus efeitos para a compreensão do tema desse estudo, em especial de Franz Fanon. Os dados foram produzidos através de entrevistas, via roteiro semiestruturado, de quatro custodiados, três agentes penitenciários/as e um agente religioso no Complexo Penitenciário Lemos Brito na cidade de Salvador, analisadas à luz da análise categorial temática. Concluímos que a instituição prisão ainda funciona de forma preponderadamente colonial, onde a reatualização da hegemonia cristã, com a roupagem atual das vertentes evangélicas/protestantes. Esse horizonte localiza o corpus religioso de matriz africana, importante e fundamental prisma de resistência identitária negra diaspórica, como algo a ser neutralizado, incidindo maior vulnerabilidade da população negra ao discurso cristão que produz auto-ódio, desvinculação social, com base em intolerância religiosa, racismo religioso e institucional.
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