Circulação de saberes entre instituições: um caminho para decolonização da didática da Matemática
DOI:
https://doi.org/10.22481/odeere.v6i2.9809Palavras-chave:
Teoria Antropológica do Didático, Circulação de praxeologias, Decolonização didáticaResumo
O presente artigo insere-se no quadro da Didática da Matemática (DM), alicerçando na Teoria Antropológica do didático (TAD), uma teoria que tem o objeto de saber como seu foco, analisando-o a nível epistemológico e institucional e tem entre os seus elementos primitivos de analise, a abordagem ecologia, praxeológica e a noção de relação ao objeto. É sobre a relação ao objeto que o artigo concentra a sua discussão, a nível teórico, objetivando mostrar como a DM pode contribuir para um debate sobre a decolonização epistemológica de saberes no ensino da Matemática. Em nossa analise, destacamos a abordagem ecológica como o principal elemento de análise na TAD que, ao se situar na análise das condições e restrições de vida do objeto em seu ambiente conceitual, procura compreender como o objeto está posto nos currículos, ao questionar sobre o que existe? o que não existe? o que desapareceu e porquê? o que existe em outros ambientes de vida e não estão aqui? Porque que não estão aqui? Etc. A DM procura por este meio, questionar e denunciar as práticas de ensino que tem as epistemologias do pensamento moderno colonial, eurocêntrico/ocidental como únicas formas de produção do conhecimento matemático, e que por via disso, tendem a subjugar, subalternizar, primitivizar sabedorias outras, não eurocêntricas/ocidentais. Ao mesmo tempo que denuncia, por meio da abordagem praxeológica, propõe ações, mecanismos que possibilitem trazer e discutir as sabedorias não eurocêntricas/ocidentais em espaços escolares, para participarem do processo de produção do conhecimento científico, através do processo de circulação de saberes ou praxeologias entre instituições.
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