UM DESLOCAMENTO NA ABORDAGEM FOUCAULTIANA DAS RELAÇÕES DE PODER

Autores/as

  • Daniel Galantin

Palabras clave:

Foucault, Nietzsche, poder, genealogia, história

Resumen

Neste artigo procuramos ressaltar uma mudança de ênfase na caracterização das relações de poder presentes nas investigações de Michel Foucault. Argumentamos que com o artigo Nietzsche, a genealogia e a história, publicado em 1971, o filósofo francês passa a concentrar-se nos aspectos positivos das relações de poder, ou seja, em sua capacidade de criar campos, objetos e sujeitos de conhecimento. Para isso propomos uma comparação com a aula A ordem do discurso, de viés claramente metodológico e ministrada em 1970, onde os mecanismos de controle do discurso são caracterizados a partir de termos que sugerem ou ressaltam aspectos negativos ou repressivos deste controle, ou seja, das relações de poder. No entanto, isso não quer dizer que Foucault tenha adotado explicitamente, até o final da década de 1960, exatamente a mesma concepção jurídico-repressiva de poder que ele criticou na década seguinte, mas que até então estas relações eram descritas em termos majoritariamente repressivos, o que acabou por tornar-se insuficiente para a descrição de vários casos. Certamente ainda há textos de entrevistas posteriores a 1971 que caracterizam as relações de poder em termos que ressaltam seu caráter de exclusão, assim como há textos da década de 1960 que podem sugerir aspectos produtores das mesmas. Com isso, não se trata de dizer que a aula inaugural e o artigo sobre Nietzsche marca uma grande virada no pensamento foucaultiano, mas que são índices de uma mudança em curso nas linhas de força que o constituem, movimento que pode ser detectado através do contraste entre ambos os textos.

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