Escrever o Romance Rural
Abstract
Escrever o romance “rural” ou escrever o “romance rural”? O objetivo do artigo é a investigação das diferentes relações que se estabelecem entre o ‘livro’ e o realismo rural no romance S. Bernardo (Graciliano Ramos). No livro, narrado na primeira pessoa, a discussão, a figuração e a enunciação saltam aos olhos, formando um contraste intenso entre – nos termos estabelecidos por Angel Rama (1985) – a ‘cidade letrada’ (o romance) e a ‘cidade real’ (a matéria rural sob impacto capitalista). No livro, discutir método e função do livro e do escritor é problema indissociável do próprio trabalho ficcional de recriação (ou reconstituição, para os propósitos da maioria dos autores de 30) do real. Nesse sentido, o romance de Graciliano Ramos apresenta-se como o caso limite, na medida em que a ‘escrita’ ultrapassa a mera abordagem temática, estruturando-se com melhores resultados como forma. O ângulo escolhido para a interpretação é o da ‘poética’ do romance em relação à própria ficção rural enquanto construção simbólica de uma dimensão sócio histórica, às voltas com as demandas de negação do ‘literário’, próprias do contexto da década de 1930. Tal negação do ‘literário’, para além de seus alegados componentes ‘éticos’ (a missão do intelectual, a ênfase no projeto ideológico), é ela mesma ‘literária’, uma ‘escola’. Assim, o resultado a que se quer chegar é o da discussão de algumas tensões específicas da autolegitimação literária e intelectual em operação em S. Bernardo .