“Sapatos ao mato”: o sentimento de “um triste homem que vem preso” pelo Santo Ofício
Palavras-chave:
América Portuguesa, Inquisição, SensibilidadesResumo
João de Moraes Montesinhos seria um anônimo na história não fosse a carta de próprio punho remetida aos inquisidores lisboetas denunciando os maus-tratos sofridos pelas mãos de um Familiar do Santo Ofício durante o traslado que o levava preso das Minas do Ribeirão do Carmo para o porto no Rio de Janeiro, onde embarcaria para o tribunal de Lisboa (1729). Esta carta é fonte raríssima e nos dá a dimensão do sentimento de um prisioneiro, incerto quanto ao seu fim, certo de seus sofrimentos. Neste artigo apresentamos o conteúdo da missiva no que tange à subjetividade do réu ante seus carrascos, à violência que sofreu e como expressou sua dor. Um testemunho que não pode ser menosprezado, posto que reflete a alma de qualquer indivíduo subjugado e as relações de poder emergidas das tensões orquestradas por uma instituição totalitária e racista.