O Ensino Remoto e o aprofundamento das Desigualdades Raciais no Brasil

Resumo

Neste ensaio, buscamos sustentar a tese de que a letalidade do patógeno que produziu a Pandemia da Covid-19 não se expressa somente em sua potência de morte contra os corpos materiais, mas também na violência subjetiva perpetrada contra grupos racializados, notadamente a forma e o conteúdo educacional que foi fornecido a esses grupos durante o período de isolamento social.  Essa tese se confirma sobretudo quando o tipo de educação que é destinado para pessoas racializadas é uma educação ainda mais precarizada do que a que historicamente tiveram acesso. Como resultados das análises tecidas, explicitamos que o Estado brasileiro, durante a Pandemia da Covid-19, implementou institucionalmente um “racismo de classe” e aprofundou as desigualdades educacionais entre pessoas racializadas e pessoas não racializadas. Embora este se constitua num abismo insuperável, dentro dos limites da estrutura capitalista, atenuações desse abismo da desigualdade são possíveis e, em caráter imediato, desejáveis. Com efeito, caso existam, é preciso que se reconheçam seus limites dentro dessa estrutura e que não nos conformemos com o menos pior quando poderíamos desfrutar do que há de melhor.