Intencionalidade racionalizada: como fatos simples se tornam uma fonte de perplexidade (Rationalized intentionality: How simple facts become a source of perplexity)

Autores

DOI:

https://doi.org/10.22481/el.v22.12699

Palavras-chave:

intencionalidade; aquisição da linguagem; teoria gestual; teoria cooperativa; Tomasello.

Resumo

A teoria de Michael Tomasello é muito celebrada no campo dos estudos linguísticos voltados para o uso e a interação. Neste artigo, pretendo mostrar que ela se assenta em pressupostos contraditórios, que comprometem os preceitos gradualistas de uma visão emergencista da cognição. Os conceitos de ação e compreensão intencionais (≈ intencionalidade) que subjazem à teoria gestual são baseados em modelos cognitivos que pressupõem a posse de conteúdo proposicional e de habilidades de raciocínio lógico. Os gestos dêiticos e os motivos cooperativos, que centralizam os argumentos em favor do primitivismo da intencionalidade conjunta/compartilhada, funcionam como dispositivos teóricos que racionalizam a comunicação das crianças pré-linguísticas, visando a preservar a singularidade humana frente aos outros primatas. A racionalização do conceito de intencionalidade, que pode ser mapeada ao longo de uma sequência de publicações, demonstra que o problema visado tem mais a ver com uma concepção idealizada da intencionalidade do que com fatos empíricos.

Downloads

Não há dados estatísticos.

Biografia do Autor

Joana Franco, Universidade de São Paulo (USP/ Brasil)

Joana Bortolini Franco é doutora em Linguística e Semiótica pelo Departamento de Linguística da Universidade de São Paulo, bacharel em Linguística/Português e mestra em Linguística pelo mesmo departamento. Há mais de dez anos investiga as potencialidades de diálogo entre a filosofia de Ludwig Wittgenstein e as teorias linguísticas cognitivas, com interesse nas discussões de caráter epistêmico-metodológico a respeito das bases naturalistas das ciências da linguagem.

Referências

BARRETT, L. A Better Kind of Continuity. The Southern Journal of Philosophy, v. 53, n. S1, p. 28–49, 1 set. 2015.

_____. Picturing Primates and Looking at Monkeys: Why 21st Century Primatology Needs Wittgenstein. Philosophical Investigations, v. 41, n. 2, p. 161–187, 2018.

BEHNE, T.; CARPENTER, M.; TOMASELLO, M. One-year-olds comprehend the communicative intentions behind gestures in a hiding game. Developmental Science, v. 8, n. 6, p. 492–499, 2005.

BUCKNER, C. Morgan’s Canon, meet Hume’s Dictum: Avoiding anthropofabulation in cross-species comparisons. Biology and Philosophy, v. 28, n. 5, p. 853–871, 30 set. 2013.

FRANCO, J. B. Tomasello em busca da singularidade humana: uma crítica naturalista inspirada pela filosofia de Wittgenstein. Orientadora: Evani de Carvalho Viotti. 2023. 150fl. Tese (Doutorado em Linguística) – Departamento de Lunguística da Universidade de São Paulo, São Paulo, 2023.

HARE, B. Can competitive paradigms increase the validity of experiments on primate social cognition? Animal cognition, v. 4, n. 3–4, p. 269–280, 2001.

HARE, B.; TOMASELLO, M. Chimpanzees are more skilful in competitive than in cooperative cognitive tasks. Animal Behaviour, v. 68, n. 3, p. 571–581, 2004.

LEUDAR, I.; COSTALL, A. On the historical antecedents of the theory of mind paradigm. Against Theory of Mind, p. 19–37, 2009.

PENN, D. C. How folk psychology ruined comparative psychology: And how scrub jays can save it. Animal Thinking: Contemporary Issues in Comparative Cognition, v. 8, p. 253–265, 2011.

RICHARDSON, R. C. Evolutionary psychology as maladapted psychology. Cambridge, MA: MIT Press, 2007.

SATNE, G. A two-step theory of the evolution of human thinking: Joint and (various) collective forms of intentionality. Journal of Social Ontology, v. 2, n. 1, p. 105–116, 2016.

SHARROCK, W.; COULTER, J. ToM: A Critical Commentary. Theory & Psychology, v. 14, n. 5, p. 579–600, 2004.

TOMASELLO, M. The Cultural Origins of Human Cognition. Cambridge: Cambridge University Press, 1999.

_____. The social-pragmatic theory of word learning. Pragmatics. Quarterly Publication of the International Pragmatics Association (IPrA), v. 10, n. 4, p. 401–413, 2000.

_____. Understanding and sharing intentions: The origins of cultural cognition. Behavioral and Brain Sciences, v. 28, n. 5, p. 675–691, 2005.

_____. Origins of Human Communication. Cambridge, London: The MIT Press, 2008.

_____. Why We Cooperate. Boston: MIT Press, 2009.

_____. Two key steps in the evolution of human cooperation: The interdependence Hypothesis. Current Anthropology, v. 53, n. 6, p. 673–692, 2012.

_____. A Natural History of Human Thinking. Cambridge, London: Harvard University Press, 2014.

_____. Becoming human: A theory of ontogeny. London: Harvard University Press, 2019.

TOMASELLO, M.; CALL, J. Primate Cognition. Oxford: Oxford University Press, 1997.

TOMASELLO, M.; CALL, J.; GLUCKMAN, A. Comprehension of Novel Communicative Signs by Apes and Human Children. Child Development, v. 68, n. 6, p. 1067, dez. 1997.

TOMASELLO, M.; CARPENTER, M. Shared intentionality. Developmental Science, v. 10, n. 1, p. 121–125, 2007.

TOMASELLO, M.; RAKOCZY, H. What makes human cognition unique? From individual to shared to collective intentionality. Mind and Language, v. 18, n. 2, p. 121-147, 2003.

WITTGENSTEIN, L. Philosophical Investigations. Oxford: Wiley-Blackwell, 2009 [1979].

ZAHAVI, D.; SATNE, G. Varieties of shared intentionality: Tomasello and classical phenomenology. Em: BELL; CUTTROFELLO; LIVINSTON (Eds.). Beyond the Continental-Analytic Divide. London: Routledge, 2015.

Downloads

Publicado

2024-08-17

Como Citar

FRANCO, J. Intencionalidade racionalizada: como fatos simples se tornam uma fonte de perplexidade (Rationalized intentionality: How simple facts become a source of perplexity). Estudos da Língua(gem), [S. l.], v. 22, p. e12699, 2024. DOI: 10.22481/el.v22.12699. Disponível em: https://periodicos2.uesb.br/index.php/estudosdalinguagem/article/view/12699. Acesso em: 26 set. 2024.