LANGSTON HUGHES, LIMA BARRETO E A INALCANÇÁVEL MODERNIDADE
A SEGREGAÇÃO RACIAL NOS ESTADOS UNIDOS E A EUGENIA NO BRASIL NO INÍCIO DO SÉCULO XX
DOI:
https://doi.org/10.22481/folio.v14i2.11330Palavras-chave:
Decolonialidade, Langston Hughes, Lima Barreto, Literatura Comparada, ModernismoResumo
Este artigo analisa o conto “Poor Little Black Fellow”, do escritor negro norte-americano Langston Hughes (1901 – 1967), em perspectiva comparada aos contos “Teorias do dr. Caruru” e “Agaricus auditae”, do autor negro brasileiro Lima Barreto (1881 – 1922). Com essa leitura, almejo demonstrar como ambos os escritores desconstruíram o princípio hegemônico do que se entendia como “modernidade” no início do século XX. De um lado, Langston Hughes desvelou a falácia racista do “sonho americano” e, de outro, Lima Barreto questionou a eugenia e denunciou o racismo na Primeira República no Brasil. Com base nisso, entrelaço os temas da segregação racial estadunidense e das ideias eugênicas vigentes no Brasil à época para demonstrar como a escrita negra foi capaz de elaborar um contradiscurso da modernidade, fissurando a ideia hegemônica de “progresso” e “civilização”. O argumento central do trabalho é o fato de que a “modernidade”, nas primeiras décadas do século XX, foi uma experiência branca. Sendo assim, a perspectiva teórica desta reflexão pressupõe que o mundo ocidental foi moldado pela lógica da colonialidade, como sugere o argentino Walter Mignolo (2017), e leva em conta, nessas sociedades, a existência de um “contrato racial”, na definição do filósofo jamaicano Charles Mills (1997). Com uma preocupação decolonial, baseia-se também no circuito intelectual caribenho, a partir de Aimé Césaire (1978) e Frantz Fanon (2008), bem como nos estudos sobre o Outro de Gayatri Spivak (2010), Achille Mbembe (2014) e Grada Kilomba (2019).
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