Branquitude, imagens de controle e desidentificação: uma análise de discurso textualmente orientada de raps produzidos por mulheres negras

Autores

  • Alexandra Bittencourt de Carvalho Universidade Federal de Minas Gerais
  • Jéser Abílio de Souza Universidade Federal de Minas Gerais/Mestre em Ciência Política pelo Programa de Pós-Graduação em Ciência Política da UFMG
  • Mariana Sales e Abreu Mestranda em Ciência Política pelo Programa de Pós-Graduação em Ciência Política da Universidade Federal de Minas Gerais

DOI:

https://doi.org/10.29327/232521.9.1-3

Palavras-chave:

rap, imagens de controle, Análise de Discurso Crítica, mulheres negras, branquitude

Resumo

Este artigo procura investigar de que forma mulheres negras no rap brasileiro mobilizam e combatem as imagens de controle produzidas pela branquitude com vistas à reconstrução de práticas sociais. Nos baseamos no entendimento do pensamento feminista negro de que a cultura de forma ampla e a música, especificamente, são espaços nos quais mulheres negras refletem sobre a realidade e combatem representações racistas. Consideramos, também, as formas como as estruturas de raça e de gênero interagem para a produção de experiências das mulheres negras, buscando apoio na literatura sobre interseccionalidade. Além disso, entendemos a branquitude como uma posicionalidade identitária que, no processo de racialização, coloca os seus ideais estéticos-culturais como ponto de referência para a organização social, fornecendo a dimensão discursiva para a opressão racial. Para realizar o estudo, nos valemos do conceito de imagens de controle, proposto por Patricia Hill Collins, como instrumento teórico-metodológico, associada à metodologia de Análise de Discurso Crítica e à interseccionalidade com a finalidade de analisar músicas de Tássia Reis e Preta Rara, artistas que ganharam popularidade no rap contemporâneo. As escolhas metodológicas estão pautadas na percepção de que o discurso é um dos articuladores de estruturas de poder de gênero, raça, classe e outras identidades, sendo, também, um dos campos estratégicos que podem ser disputados na busca por justiça social. Pudemos observar que as rappers brasileiras reconhecem o efeito de dominação das imagens de controle, ao mesmo tempo em que empregam discursos de resistência como forma de se colocar como agentes sócio-políticas na transformação da dinâmica racista.

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Biografia do Autor

Alexandra Bittencourt de Carvalho, Universidade Federal de Minas Gerais

Alexandra Bittencourt de Carvalho, Doutoranda em Linguística do Texto e do Discurso pelo Programas de Pós-Graduação em Estudos Linguísticos da Universidade Federal de Minas Gerais

Doutoranda em Linguística do Texto e do Discurso pelo Programas de Pós-Graduação em Estudos Linguísticos da Universidade Federal de Minas Gerais.

Jéser Abílio de Souza, Universidade Federal de Minas Gerais/Mestre em Ciência Política pelo Programa de Pós-Graduação em Ciência Política da UFMG

Jéser Abílio de Souza, Universidade Federal de Minas Gerais/Mestre em Ciência Política pelo Programa de Pós-Graduação em Ciência Política da UFMG

Mestre em Ciência Política pelo Programa de Pós-Graduação em Ciência Política da Universidade Federal de Minas Gerais. Pós-Graduando em História da África e da Diáspora Atlântica pelo Instituto de Pesquisa e Memória Pretos Novos. Bacharel em Direito pela Universidade Paulista e em Relações Internacionais pela Faculdade de Ciências Humanas e Sociais da Universidade Estadual Paulista. Pesquisador integrante do Grupo de Pesquisa NELC - Núcleo de Estudos Linguísticos e Culturais da UNESP/CNPq. 

Mariana Sales e Abreu, Mestranda em Ciência Política pelo Programa de Pós-Graduação em Ciência Política da Universidade Federal de Minas Gerais

Mariana Sales de Abreu, Mestranda em Ciência Política pelo Programa de Pós-Graduação em Ciência Política da Universidade Federal de Minas Gerais

Mestranda em Ciência Política pelo Programa de Pós-Graduação em Ciência Política da Universidade Federal de Minas Gerais e Pós-Graduanda em Estudos Afrolatinoamericanos pelo Conselho Latinoamericano de Ciências Sociais. Pesquisadora do MARGEM – Grupo de Pesquisa em Democracia e Justiça, e do NEPEM – Núcleo de Estudos e Pesquisas sobre a Mulher. Bolsista CAPES. ORCID: https://orcid.org/0000-0002-4227-2886. E-mail: marianasalesdeabreu@gmail.com.

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Publicado

2022-12-19

Como Citar

de Carvalho, A. B. ., de Souza, J. A. ., & e Abreu, M. S. . (2022). Branquitude, imagens de controle e desidentificação: uma análise de discurso textualmente orientada de raps produzidos por mulheres negras. Língu@ Nostr@, 10(1), 43 - 64. https://doi.org/10.29327/232521.9.1-3