Narrativas do cerrado: As vozes das matas para uma educação linguística antirracista

Autores

  • Tânia Rezende Universidade Federal de Goiás

DOI:

https://doi.org/10.29327/232521.8.1-4

Palavras-chave:

Educação linguística, Educação antirracista, Escrevivência, Memórias, Matrinarrativas

Resumo

A estruturação do mundo moderno colonial mobilizou diversos projetos de dominação da natureza, dos territórios e dos corpos, inferiorizando as populações colonizadas. A modernidade ilustrada se autoproclamou como universal e única, invalidando qualquer outra forma de ser, sentir, pensar, agir e falar: ontoepistemicídio. As línguas de colonização foram introduzidas nos territórios colonizados como línguas de cultura e de conhecimento, deslegitimando as demais: linguicídio. O catolicismo foi imposto como religião única e o cristianismo como sistema único de relação com o sagrado e com o mundo. Para ser racional, civilizado e se conformar com a nova ordem, o ser humano teve de perder sua divindade e seu vínculo com o cosmo, ainda que não totalmente. A escola e a igreja se encarregaram de cumprir o árduo papel de normatizar o “novo homem”. O objetivo desta discussão é problematizar a existência de cosmogonias e ontoepistemologias, que se manifestam em práticas cosmolinguísticas e em matrinarrativas cerradeiras, que expressam a manutenção do vínculo do ser humano com a natureza e com o sagrado, apesar da modernidade/colonialidade. Com essa problematização, pretendo propor estratégias de fortalecimento das matrinarrativas e das práticas cosmolinguísticas, criando espaços e situações para a insurgência e a instauração das memórias ancestrais coletivas, por meio da “escrevivência” (EVARISTO, 2020), nas aulas de línguas, visando uma educação linguística antirracista. Espero que com a prática da “escrevivência”, entendida como “a escrita de nós” (NUNES, 2020, p. 12), como lócus pedagógico nas aulas de línguas, a escola possa potencializar a escrita como um ato político para as pessoas minorizadas, mais especificamente, para as mulheres dos grupos excluídos, para as quais a escrita tem sido, historicamente, negada. Dessa forma, para além da Literatura, a “escrevivência” poderá insurgir na escola, no ensino de línguas, como uma aliada das mulheres subalternizadas na luta por mais igualdade social e política.

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Publicado

2021-11-20

Como Citar

Rezende, T. . (2021). Narrativas do cerrado: As vozes das matas para uma educação linguística antirracista. Língu@ Nostr@, 9(1), 38 - 58. https://doi.org/10.29327/232521.8.1-4