Por uma linguística aplicada antirracista, descolonial e militante: Racismo e branquitude e seus efeitos sociais

Autores

  • Marco Antonio Lima do Bonfim Universidade Estadual do Ceará(UECE)

DOI:

https://doi.org/10.29327/232521.8.1-9

Palavras-chave:

Linguística aplicada antirracista, Branquitude, Descolonialidade

Resumo

No campo da Linguística Aplicada Brasileira existem algumas pesquisas (XXX, 2016b; FERREIRA, 2015; MUNIZ, 2016; NASCIMENTO, 2019; SOUZA, 2011) que mobilizam as categorias linguagem, identidade e raça de maneira imbricada. Além disso, temos tido em nossa área, cada vez mais uma virada descolonial (XXXX, 2016a) que tem buscado “alternativas, sem os purismos ou fundamentalismos característicos da colonialidade, para a construção de descolonialidades na compreensão do mundo e da vida social” (GUIMARÃES; VESZ, 2019, p. 7-8). Nesse sentido, este artigo argumenta a favor de uma Linguística Aplicada antirracista, descolonial e militante. Para tanto realizo uma análise discursivo-pragmática da trajetória textual de atos de fala relativos à identidades raciais negras e brancas no facebook a fim de demonstrar as relações entre linguagem, colonialidade, branquitude e racismo bem como a necessidade de uma perspectiva descolonial de língua na LA. Como aportes teórico-metodológicos tive por base as pesquisas linguísticas no campo aplicado que tem focalizado as relações entre linguagem, racismo e (des)colonialidades (PINTO, 2010, 2011, 2012, 2014a, 2018; MUNIZ; 2016; NASCIMENTO, 2019), as/os autoras/es da crítica descolonial contemporânea (FANON, 2008; KILOMBA, 2019; MIGNOLO, 2006; QUIJANO, 2010) bem como em categorias analíticas oriundas da Antropologia linguística (BAUMAN & BRIGGS, 1990). Concluí que nossas práticas linguísticas são racializadas e por isso a linguagem não pode prescindir de ser analisada em sua articulação com os processos coloniais e com as formas de subjetivação que participa(r)am da construção de corpos e identidades raciais ao longo do sistema-mundo-patriarcal-capitalista-colonial-moderno (GROSFOGUEL, 2010). Palavras-chave: Linguística aplicada antirracista; branquitude; descolonialidade.

Downloads

Não há dados estatísticos.

Referências

ALMEIDA FILHO, José. Linguística Aplicada, aplicação de linguística e ensino de línguas. In: KLEIMAN, A; CAVALCANTE, M. (Org). Linguística Aplicada, Ensino de Línguas e Comunicação. Campinas - SP: Pontes, 2005, p. 11-21.

ALMEIDA, Silvio. Racismo estrutural. São Paulo. Pólem, 2019.

AUSTIN, J. Quando dizer é fazer: palavras e ação. Tradução de Danilo Marcondes de Souza Filho. Porto Alegre: Artes Médicas, 1990.

BAUMAN, Richard; BRIGGS, Charles. Poética e Performance como perspectivas críticas sobre a linguagem e a vida social. Trad. Vânia Z. Cardoso. ILHA (Revista de Antropologia), 1990, p. 185-229.

BENTO, Maria Aparecida. Branqueamento e branquitude no Brasil. CARONE, I; BENTO, M. (Orgs). Psicologia social do racismo: estudos sobre branquitude e branqueamento no Brasil. Petrópolis, RJ: Vozes, 2002, p. 25-58.

BHABHA, Homi. O local da cultura. Trad. Myriam Ávila [et. al]. 2 ed. Belo Horizonte: Editora da UFMG, 2013.

XXX. A/o linguista enquanto uma/um intelectual orgânica/o da classe trabalhadora: por uma linguística militante. CORREA, Djane; FRAGA, Letícia; COUTO, Lígia; BRAGA, Luciamar (Orgas) O sujeito acadêmico: descolonização do conhecimento? Campinas: Pontes, 2019, v.1, p. 127-146.

XXX; ALENCAR; Claudiana. Trajetórias textuais, indexicalidade e recontextualizações de resistência no Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra. Cadernos de Linguagem e Sociedade, v. 18, 2017. p. 27-44.

XXXX. Pragmática dos corpos militantes no Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra do Ceará. Tese (Doutorado em Linguística Aplicada). Programa de Pós-Graduação em Linguística Aplicada da UECE. Fortaleza, 2016.

BLOMMAERT, Jan. A sociolinguistics of globalization. Cambridge: Cambridge University Press, 2010.

CARDOSO, Lourenço. Branquitude acrítica e crítica: A supremacia racial e o branco anti-racista. Revista Latinoamericana de Ciencias Sociales, Niñez y Juventud, v. 8, 2010. p. 607-630.

CAVALCANTI, Marilda. A propósito de linguistica aplicada. Trabalhos em Linguística Aplicada, n. 7, v.2.1986. p.5-12.

DOMINGUES, Petrônio. O mito da democracia racial e a mestiçagem no Brasil. Dialogos Latinoamericanos, Dinamarca, v. 10, n.10, p. 117-132, 2005.

FANON, Frantz. Pele negra, máscaras brancas. Salvador, EDUFBA, 2008.

GOMES, Nilma Lino. Alguns termos e conceitos presentes no debate sobre relações raciais no Brasil. Educação antirracista: caminhos abertos pela Lei Federal nº 10.639/03. Ministério da Educação e Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade. Brasília, 2005.

GOMES, Nilma. Entrevista. Revista Linguagem em foco. v.8, n.2. Fortaleza, 2016.p.115-122.

GOMES, Nilma. Relações Étnico-Raciais, Educação e Descolonização dos Currículos. Currículo sem Fronteiras, v. 12, 2012. p. 98-109

GROSFOGUEL, Ramón. Para descolonizar os estudos de economia política e os estudos pós-coloniais: transmodernidade, pensamento de fronteira e colonialidade global. In: SOUSA SANTOS, Boaventura; MENEZES, Maria Paula (Orgs.). Epistemologias do sul. São Paulo: Cortez, 2010. p.455-491.

GUIMARÃES, Antonio Sérgio. Cor e raça: Raça, cor e outros conceitos analíticos. In PINHO, O; SANSONE, L.(Orgs). Raça: novas perspectivas antropológicas. 2 ed. rev. Salvador : Associação Brasileira de Antropologia: EDUFBA, 2008.p.63-82.

GUIMARÃES, Thayse; VESZ, Fernando. Apresentação: práticas linguísticas e construção de (des)colonialidades na contemporaneidade. Dossiê Práticas linguísticas e (Des)colonialidades. RAÍDO, v.13, n.33, 2019. p.7-9.

KILOMBA, Grada. Memórias da Plantação: episódios de racismo cotidiano. Trad. Jess Oliveira. Rio de Janeiro, Cobogó, 2019.

KLEIMAN, Ângela. Agenda de pesquisa e ação e Linguística Aplicada: problematizações. In: MOITA LOPES, L. P. (Org). Linguística aplicada na modernidade recente: festschrift para Antonieta Celani. São Paulo: Parábola, 2013.p.39-58.

KRESS, Gunter; Van LEEUWEN, T. Multimodal Discourse: The Modes and Media of Contemporary Communication. London: Arnold, 2001.

LIMA, Ana Maria; LIMA, GONÇALVES, Carla Jéssica. A argumentação como proposta discursiva dos memes. Revista Tecnologias na Educação, v. 19, p. 1-13, 2017.

LOPES, Adriana. Funk-se quem quiser no batidão negro da cidade carioca. Tese (Doutorado em Linguística). Campinas. Instituto de Estudos da Linguagem/ IEL, Universidade Estadual de Campinas/ UNICAMP, 2010.

MANCEBO, Deise. Crise político-econômica no Brasil: breve análise da educação superior. Revista Educação e Sociedade, v.38, n.141, out-dez, 2017.

MIGNOLO, Walter. Histórias Locais / Projetos Globais: Colonialidade, Saberes Subalternos e Pensamento Liminar. (Trad.: Solange Ribeiro de Oliveira). Belo Horizonte: Editora da UFMG, 2006.

MOITA LOPES, Luiz Paulo. (Org.). Como e porque teorizar o português: recurso comunicativo em sociedades porosas e em tempos híbridos de globalização cultural. O português no século XXI: cenário geopolítico e sociolinguístico. São Paulo: Parábola, 2013.

MOITA LOPES, Luiz Paulo. (org.). Por uma linguística aplicada INdisciplinar. São Paulo: Parábola Editorial, 2006.

MOITA LOPES, Luiz Paulo. Da aplicação de Linguística à Linguística Aplicada indisciplinar. PEREIRA, R. C.; ROCA, P. (Org). Linguística Aplicada: um caminho com diferentes acessos. São Paulo: Contexto, 2011. p.11-24.

MOITA LOPES, Luiz Paulo; FABRÍCIO, Branca. Viagem textual pelo sul global: ideologias linguísticas queer e metapragmáticas translocais. Linguagem em (Dis)curso – LemD, Tubarão, SC, v. 18, n. 3, set./dez. 2018. p. 759-784.

MUNANGA, Kabengele. Rediscutindo a mestiçagem no Brasil: identidade nacional versus identidade negra. Belo Horizonte: Autêntica, 2004.

MUNIZ, Kassandra. Ainda sobre a possibilidade de uma linguística “crítica”: performatividade, política e identificação racial no Brasil. DELTA , n.32, 2016.

NASCIMENTO, Gabriel. Racismo linguístico: os subterrâneos da linguagem e do racismo. Belo Horizonte: Letramento, 2019.

OTTONI, P. Visão performativa da linguagem. Campinas: Editora da UNICAMP, 1998.

PINTO, Joana . Modernidade e diferença colonial nos discursos hegemônicos sobre língua no Brasil. Muitas Vozes, v. 1, p. 171-180, 2012.

PINTO, Joana. Da língua-objeto à práxis Linguística: Desarticulações e Rearticulações contra hegemônicas. Revista Linguagem em foco. Fortaleza, 2010.p.69-83.

PINTO, Joana. Estilizações de gênero em discurso sobre linguagem. Campinas. Tese (Doutorado em Linguística). Instituto de Estudos da Linguagem/ IEL, Universidade Estadual de Campinas/ UNICAMP, 2002.

PINTO, Joana. Gênero e suas articulações para igualdade e pluralidade na educação linguística. FERREIRA, A; JOVINO, I; SALEH, P. (Orgs). Um olhar interdisciplinar acerca de identidades sociais de raça, gênero e sexualidade. Campinas: Pontes, 2014b.p.103-122.

PINTO, Joana. Hegemonias, contradições e desafios em discursos sobre língua no Brasil. CORREA, Djane (Orga). Política linguística e ensino de língua. Campinas-SP: Pontes, 2014a.p. 59-72.

PINTO, Joana. Ideologias linguísticas e a instituição de hierarquias raciais. Revista ABPN, v. 10, p. 704-720, 2018.

PINTO, Joana. Prefiguração identitária e hierarquias linguísticas na invenção do português. In: MOITA LOPES, Luiz Paulo. (Org.) O português no século XXI: cenário geopolítico e sociolinguístico. São Paulo: Parábola, 2013. p.120-143.

PINTO, Joana; AMARAL, Daniella. Corpos em trânsito e trajetórias textuais. Revista da ANPOLL (Online), v. 1, p. 151-164, 2016.

QUIJANO, Aníbal. Colonialidade do poder e classificação social. In: SANTOS, Boa Ventura de Sousa e MENESES, Maria Paula. Orgs. Epistemologias do Sul. 1ª ed. São Paulo: Cortez, 2010. p.84-129.

QUIJANO, Aníbal. Colonialidade do poder, eurocentrismo e América Latina. LANDER, E (Org). A colonialidade do saber: eurocentrismo e ciências sociais. Perspectivas latino-americanas. Colección Sur Sur, CLACSO, Buenos Aires, 2005.p.107-130.

RAJAGOPALAN, Kanavillil. A pesquisa política e socialmente compromissada em pragmática. SILVA, D.; ALENCAR, C.; FERREIRA, D. (Orgs.). Nova Pragmática: modos de fazer. São Paulo: Cortez, 2014.p.101-126.

RAJAGOPALAN, Kanavillil. Por uma linguística crítica: linguagem, identidade e a questão ética. São Paulo: Parábola Editorial, 2003.

RAJAGOPALAN, Kanavillil. Resposta aos meus debatedores. In: RAJAGOPALAN, K; LOPES, F. (orgs.). A linguística que nos faz falhar: uma investigação crítica. São Paulo, Parábola Editorial, 2004. p. 166-128.

RAJAGOPALAN, Kanavillil; FERREIRA, Dina (Orgs). Políticas em linguagem: perspectivas identitárias. São Paulo: Editora Mackenzie, 2006.

SALES JÚNIOR, R. Democracia racial: o não-dito racista. Revista Tempo Social. v.18, n.2, nov. São Paulo, 2006.p. 229-258.

SANTOS, Antonio Bispo. Colonização, quilombos, modos e significados. Brasília, 2015.

SCHUCMAN, Lia. Branquitude e Privilégio. In: Maria Lucia da Silva; Marcio Farias, Maria Cristina Ocaris, Augusto Stiel Neto. (Org.). Violência e Sociedade: O racismo como estruturante da sociedade e da subjetividade do povo Brasileiro. 1ed.São Paulo: Editora Escuta, 2018, v. 1, p. 137-150.

SCHWARCZ, Lilia. O espetáculo das raças, 7a edição. 7. ed. São Paulo: Companhia das Letras, 2008.

SIGNORINI, Inês. Metapragmáticas da língua em uso: unidades e níveis de análise. In: Inês Signorini. Org. Situar a lingua[gem]. São Paulo: Parábola, 2008.

SIGNORINI, Inês. Política, língua portuguesa e globalização. In: MOITA LOPES. (Org.) O português no século XXI: cenário geopolítico e sociolinguístico. São Paulo: Parábola, 2013a.pp.74-100.

SILVA, Daniel. Enregistering the nation: Bolsonaro’s populist branding of Brazil. Urban Language & Literacies, v. 252, 2019. p.1-27.

SILVA, Daniel. ‘A propósito de Linguística Aplicada’ 30 anos depois: quatro truísmos correntes e quatro desafios. São Paulo (SP). DELTA (31), 2015.p.349-376.

SILVA, Daniel. O texto entre a entextualização e a etnografia: um programa jornalístico sobre belezas subalternas e suas múltiplas recontextualizações. Linguagem em (Dis)curso, Tubarão, SC.v.14,n.1, 2014.p.67-84.

SILVERSTEIN, Michel. Indexical order and dialectics of sociolinguistic life. Language & Communication, v. 23, n. 3-4, p 193-229, Jul.-Out. 2003.

SOUSA SANTOS, Boaventura; MENEZES, Maria Paula (Orgs.). Epistemologias do sul. São Paulo: Cortez, 2010.

SOUZA, Neusa. Tornar-se Negro: as vicissitudes da identidade do negro Brasileiro em Ascensão Social. Rio e Janeiro: Edições Graal,1983.

SPIVAK, Gayatri. Pode o subalterno falar? 1. ed. Trad. Sandra Regina Goulart Almeida; Marcos Pereira Feitosa; André Pereira. Belo Horizonte: Editora da UFMG, 2010.

Downloads

Publicado

2021-11-20

Como Citar

do Bonfim, M. A. L. . (2021). Por uma linguística aplicada antirracista, descolonial e militante: Racismo e branquitude e seus efeitos sociais. Língu@ Nostr@, 9(1), 157 - 178. https://doi.org/10.29327/232521.8.1-9