O GENOCÍDIO DE CANUDOS COMO TRAUMA E OS SERTÕES COMO RELATO TESTEMUNHAL
DOI:
https://doi.org/10.22481/folio.v11i1.5141Abstract
Este texto propõe uma leitura da obra mestra de Euclides da Cunha como um gesto testemunhal, que, como tal, manifesta a relação traumática entre escritor/testemunha e língua na representação do acontecimento traumático do genocídio do povoado de Canudos. Euclides atesta a “fragilidade da palavra” para traduzir as barbaridades cometidas pela república em nome de uma unidade nacional. Ao engendrar um jogo com a “fragilidade da palavra” para dar conta da violência de Estado que testemunha, Euclides transforma o que deveria ser um relato jornalístico em uma epopeia em prosa do genocídio sistematizado pela “civilização”, elaborando um monumento dessa ferida que, entre outras, permeia nossa história. O trauma inscrito em Os sertões não apenas atribui um aspecto testemunhal à obra, como também marca a escrita de tal modo que a tradução daquela barbárie em palavras não ocorre de forma tranquila. A escrita testemunhal, falando com Seligmann-Silva (2005, 2008), abala os limites entre história e literatura, memória e ficção. A escrita d`Os sertões não só abala esses limites como também é perturbada por eles, especialmente no que se refere à aporia entre a ambição de arquivo histórico e o inquietante espectro da ficção e da literatura. Os sertões, como argumentaremos, permanecem no lugar indecidível do testemunho. Lugar em que, segundo Derrida (2000), concorrem, sem ser possível decidir por um lado: a possibilidade de literatura ou uma verdade factual que a testemunha promete relatar.
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