Entre o mundo material e o mundo espiritual: magia, religiosidade e catolicismo popular em um município de Minas Gerais
DOI:
https://doi.org/10.22481/sertanias.v1i1.8274Palabras clave:
Bless, Morte, Narrativa, Oralidade, ReligiosidadeResumen
Este trabalho se debruça sobre distintas formas de interação entre o mundo espiritual e o mundo material no município de Caldas, situado no sul de Minas Gerais. A partir de nossas vivências junto à população local, evidenciamos que tais relações se tecem pelas manifestações deste mundo espiritual na cotidianidade das pessoas em vários aspectos, como a visita de espíritos de parentes mortos, sobretudo em dias que sucedem a morte do corpo. Observamos narrativas que evocam a aparição de almas de antigos moradores em locais de distinção pessoal, como suas residências ou em lugares que cometeram seus pecados – motivo pelo qual ainda caminham no mundo dos vivos – e, por isso, são incorporadas à categoria assombração. Nesta dimensão de proximidades e de comunicações, para além dos fiéis católicos, os quais representam a maioria da população e exercem variados ritos e práticas mágicas, encontramos outros agentes sociais que possuem uma interação mais estreita com o mundo espiritual, elaborando feitiços que podem levar à morte ou os benzedores, que curam doenças, expulsam assombrações e desfazem feitiços. Nesse sentido, por meio da “observação participante”, da coleta de narrativas e da memória coletiva, analisamos interseccionalidades nas inúmeras formas de convergência entre os dois mundos, em que as representações sobre a morte e sobre as almas dos mortos são relevantes para a comunidade, optando em incorporá-las à noção de catolicismo popular.
Descargas
Citas
ALBERTI, Verena. Manual de história oral. Rio de Janeiro, Brasil: FGV Editora, 2005.
AZZI, Riolando. Catolicismo popular no Brasil: aspectos da história. Petrópolis, Brasil: Vozes, 1978.
BETHENCOURT, Francisco. O imaginário da magia: feiticeiros, adivinhos e curandeiros em Portugal no século XVI. São Paulo, Brasil: Companhia das Letras, 2004.
BRANDÃO, Carlos Rodrigues. Tempos e espaços nos mundos rurais brasileiros. Ruris: Revista do Centro de Estudos Rurais/Universidade Estadual de Campinas, v.1, n.1, p 37-64, 2007.
BURKE, Peter. Hibridismo cultural. São Leopoldo, RS: Editora Universidade do Vale do Rio dos Sinos, 2010.
CANDIDO, Antonio. Parceiros do Rio Bonito. 9. ed. São Paulo: Saraiva, 2001.
CARNEIRO, Maria José. Rural como categoria de pensamento. Ruris: Revista do Centro de Estudos Rurais/Universidade Estadual de Campinas, v.2, n.1, p 9-38, 2008.
COMARROF, J; COMARROF, J. Etnografia e imaginação histórica. In: PROA – Revista de Antropologia e Arte, vol. 01, n. 02, 2010.
DELUMEAU, Jean. História do medo no ocidente 1300-1800: uma cidade sitiada. São Paulo, Brasil: Companhia das Letras, 1989.
ELIADE, Mircea. O sagrado e o profano. São Paulo, Brasil: Martins Fontes, 1992.
FREYRE, Gilberto. Casa-grande e senzala: formação da família brasileira sob o regime da economia patriarcal. 51. ed. São Paulo: Global, 2006.
GEERTZ, Clifford. A interpretação das culturas. Rio de Janeiro, Brasil: Ed. Guanabara, 1989.
LE BRETTON, David. Antropologia das emoções. Petrópolis: Vozes, 2019.
MALINOWSKI, Bronislaw. 2ª edição. Argonautas do Pacífico Ocidental: um relato do empreendimento e da aventura dos nativos nos arquipélagos da Nova Guiné Melanésia. São Paulo, Brasil: Abril Cultural, 1978.
MATOS, Raimundo José da Cunha. Corografia histórica da Província de Minas Gerais (1837). Belo Horizonte: Editora Itatiaia; São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 1981.
MELLO e SOUZA, Laura de. Formas provisórias de existência. In: NOVAIS, Fernando (coord.). História da vida privada no Brasil. Cotidiano e vida na América Portuguesa. São Paulo: Companhia das Letras, 1997, v.1, p. 41-81.
______. O Diabo e a terra de Santa Cruz. São Paulo: Companhia das Letras. São Paulo: Companhia das Letras, 1986.
MOTT, Luiz. Cotidiano e vivência religiosa: entre a capela e o calundu. In: NOVAIS, Fernando (Coord.). História da vida privada no Brasil: Cotidiano e vida na América Portuguesa. Vol 1, (p. 155-220). São Paulo, Brasil: Companhia das Letras, 1997.
MOURA, Margarida Maria. 2ª edição. Camponeses. São Paulo, Brasil: Ática, 1988.
MUCHEMBLED, Robert. Uma história do diabo: séculos XII-XX. Rio de Janeiro, Brasil: Bom Texto, 2001.
PIERRE SANCHIS, J.F. Religiões, religião – alguns problemas do sincretismo no campo religioso brasileiro. In: SANCHIS, Pierre (org.). Fiéis e cidadãos. Rio de Janeiro: Uerj, 2001.
PIMENTA, Reynaldo. O povoamento do planalto da Pedra Branca – Caldas e região. São Paulo: Rumograf, 1998. Obra póstuma.
PORTO, Liliana. A ameaça do outro: magia e religiosidade no Vale do Jequitinhonha (MG). São Paulo: Attar, 2007.
QUINTANA, Alberto Manuel. A ciência da benzedura: mau olhado, simpatías e uma pitada de psicanálise. Bauru: Edusc, 1999.
SÁEZ, Oscar Calavia. Fantasmas Falados. Mitos e mortos no campo religioso brasileiro. Campinas, Brasil: Editora da Unicamp, 1996.
SAHLINS, Marshall. Ilhas de História Rio de Janeiro, Brasil: Jorge Zahar, 1990.
_______. O “Pessimismo sentimental” e a experiência etnográfica: porque a cultura não é um “objeto” em via de extinção (parte I). Mana – Revista de Antropologia Social, v.3, n.1, p. 41-73, 1997.
SWEET, James H. Recriar a África. Cultura: parentesco e religião no mundo afro-português (1441-1770). Lisboa, Portugal: Edições, 2007.
TAUSSIG, Michael. Xamanismo, colonialismo e o homem selvagem. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1993.
TRAJANO FILHO, Wilson. Lugares, pessoas e grupos: as lógicas do pertencimento em perspectiva internacional. Brasília, Brasil: Athalaia, 2010.
TURNER, Victor. Floresta de Símbolos: aspectos do ritual ndembu. Niterói: EdUFF, 2005.
VILHENA, Maria Ângela. Os mortos estão vivos: traços da religiosidade brasileira. Rever, n. 3, p.103-131, 2004.