Empreendendo desde a infância: formas de governar a vida?
DOI:
https://doi.org/10.22481/praxisedu.v19i50.11614Palavras-chave:
empreendedorismo, governamentalidade, produtividadeResumo
O presente artigo submetido à Revista Práxis Educacional trata do tema Projeto de Vida, cultura do empreendedorismo e gestão de si. A partir de um estudo bibliográfico publicado nos últimos 10 anos sobre a temática, o objetivo geral foi analisar como o Projeto de vida – enquanto componente curricular transversal na educação escolar – alinha-se à cultura do empreendedorismo, direcionando as formas de governo de si. O Projeto de Vida, de acordo com essa cultura, promete desenvolver múltiplas dimensões, motivando os indivíduos a resolver problemas e a tomar decisões para alcançar objetivos e atingir a realização profissional. Quando associada ao Projeto de vida, essa cultura transfere os dispositivos empresariais – tais como competividade, lucratividade, desempenho e produtividade – ao âmbito educacional, subordinando os processos formativos a uma nova governamentalidade. Assim, partiu-se do seguinte questionamento: como o Projeto de Vida orienta as novas formas de governo da vida? A partir do exposto, defende-se que o debate acadêmico sobre Projeto de Vida ancora-se em princípios provenientes do mercado neoliberal, priorizando a formação de indivíduos economicamente produtivos, porém, politicamente submissos e dóceis. Desse modo, pretende-se colocar em discussão o papel desempenhado pela racionalidade pedagógica empreendedora no direcionamento das formas de governo de si. Como forma de direcionamento analítico, a crítica foucautiana surgiu como referencial teórico capaz de apresentar criticamente os limites dos dispositivos neoliberais que inserem a Educação nas diretrizes da produtividade e da governamentalidade.
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