ESTRANHAMENTO (UNHOMELINESS) E A TRISTEZA
DOI:
https://doi.org/10.22481/folio.v14i1.11119Palavras-chave:
Estranhamento, Realismo maravilhoso, Horror, Tristeza, LágrimasResumo
Na presente reflexão busco apresentar o desenvolvimento do conceito do estranhamento, sua importância na modificação da compreensão da poética e da estética, seus exemplos nos textos literários de Bruno Schulz, de Hilda Hilst, de Jericho Brown e de Julia Hartwig, assim como suas consequências teóricas na teoria da segunda metade do século XX. A citação frequente dos exemplos da literatura realista por Victor Chklovski, que surpreende os leitores voltados para as poéticas vanguardistas, pode ser compreendida como sugestiva da relação entre o estranhamento e a poética da metonímia, discutida posteriormente no trabalho de Roman Jakobson. Envolvido nas experiências das palavras “estranhas” da linguagem transmental e nas pesquisas das expressões consideradas como sagradas ou mágicas inerentes a algumas vertentes vanguardistas, o estranhamento remete ao problema do lugar e do ponto de vista do outro, correspondendo também à experiência de uma descentralização subjetiva radical, ou seja, uma perda do lugar próprio inerente à convenção do realismo maravilhoso. Pois o estranhamento acaba por remeter à radicalização da compreensão da alteridade. Assim, o conceito formulado por Chklovski nos inícios do século XX pode ser compreendido como precursor em relação às teorias que, no fim desse século marcado pelas violências de diversos deslocamentos, procuram descrever os aspectos violentos da forma e da recepção estética, tais como a do unhomely discutido por Homi Bhabha e muito importante nas tentativas mais recentes da representação da violência.
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